Do laboratório à vida real
- Inova na Real

- 23 de set.
- 3 min de leitura
Entenda sobre a jornada da inovação na saúde
Inovar em saúde é muito mais do que ter uma boa ideia. É atravessar um percurso longo e complexo que vai do laboratório até o paciente. Cada etapa dessa jornada é marcada por ciência rigorosa, regulação exigente e, muitas vezes, frustrações.
No laboratório, tudo começa com hipóteses para resolver problemas reais: um exame mais rápido, um tratamento mais acessível, uma tecnologia que aumente a qualidade de vida. Nessa fase, não basta ser criativo, é preciso provar que a solução é viável, segura e eficaz.
Daí em diante, entram os testes pré-clínicos e clínicos, guiados por protocolos rígidos. Esse funil é implacável: muitas inovações se transformam, algumas desistem e outras simplesmente não avançam. E isso não é um capricho burocrático: é proteção ao paciente e garantia de credibilidade científica. No Brasil, esse é um dos grandes gargalos. Um estudo comparativo conduzido por pesquisadores brasileiros mostrou que o tempo real de aprovação de projetos clínicos por aqui pode ultrapassar 150 a 240 dias, contra cerca de 30 a 40 dias nos Estados Unidos e na França (De Negri et al., 2018, Estudo Comparativo dos Prazos Regulatórios da Pesquisa Clínica).
Superado o desafio científico, surge a barreira regulatória. A Anvisa tem buscado evoluir — com guias de inovação, projetos de sandbox regulatório e a inclusão do tema na Agenda Regulatória 2024-2025 (Anvisa, Documento-Síntese de AIR, 2024). Ainda assim, a morosidade continua sendo apontada como entrave. Segundo análise publicada no Jota em 2025, cerca de 60% dos ensaios clínicos autorizados no Brasil só começam de fato seis meses depois da autorização, revelando que o atraso não está apenas na regulação, mas também na execução (Cenário dos Ensaios Clínicos no Brasil, Jota, 2025).
E mesmo após a autorização regulatória, a prova final está na prática: pilotos em hospitais, clínicas ou grupos de pacientes. É nesse momento que surgem desafios reais como treinamento de equipes e adaptação cultural. O Instituto Butantan e a Fiocruz são exemplos emblemáticos dessa travessia: pesquisas iniciadas em bancadas e biotérios transformaram-se em vacinas que hoje fazem parte do Programa Nacional de Imunizações, impactando milhões de brasileiros (De Franco et al., 2014, The Brazilian public health system and the Butantan Institute vaccine development). Outro caso relevante vem da USP, com os trabalhos da professora Mayana Zatz, que lidera o Centro de Estudos do Genoma Humano e Células-Tronco. Suas pesquisas em células-tronco e modelos animais apontam para a possibilidade futura de órgãos personalizados e terapias regenerativas, ainda em fase experimental, mas com potencial de redefinir o futuro dos transplantes (Rádio USP, 2023, “Criação de órgãos humanos em suínos é a nova aposta da ciência”).
Esses exemplos mostram que a inovação em saúde não nasce pronta. Ela precisa atravessar etapas longas, complexas e, muitas vezes, dolorosas. Mas é justamente esse caminho que garante que soluções cheguem ao paciente com segurança, solidez e impacto real.
Vacinas, terapias avançadas e biotecnologias emergentes provam que a ciência pode mudar o rumo da humanidade. Mas também nos deixam uma pergunta incômoda: se já sabemos que inovação salva vidas, por que ainda demoramos tanto para transformar descobertas em prática no Brasil?
No Inova na Real, acreditamos que encarar essa pergunta é o primeiro passo. Nosso papel é provocar o debate, conectar pessoas e mostrar, com exemplos concretos, como a inovação pode sair do laboratório e chegar, de fato, à vida real.












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