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Da destruição criativa à saúde do futuro: o que o Nobel de Economia 2025 ensina para quem transforma a saúde

Atualizado: há 2 dias

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Em 2025, o Prêmio Nobel de Economia foi concedido a Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt, três economistas que ajudaram o mundo a compreender um fenômeno essencial para qualquer setor que queira prosperar: a destruição criativa. O conceito, originalmente proposto por Joseph Schumpeter, descreve o ciclo em que novas tecnologias, ideias e modelos de negócio substituem os antigos, impulsionando o crescimento econômico e o progresso social. Mas por que isso deveria interessar a quem atua na saúde? Porque a saúde é, hoje, o epicentro da destruição criativa em escala global, um setor onde a transformação tecnológica, regulatória e cultural ocorre em velocidade inédita, e onde o equilíbrio entre inovação e segurança define não apenas o futuro dos negócios, mas o futuro da vida.


Durante décadas, hospitais, operadoras e redes de diagnóstico cresceram baseados em modelos previsíveis, sustentados por margens conhecidas e cadeias de suprimento estáveis. Essa previsibilidade garantiu eficiência e controle, mas também criou uma imunidade à mudança. O que Mokyr, Aghion e Howitt mostraram é que a inovação real não floresce em ambientes estáveis, e sim na tensão entre o novo e o obsoleto. A destruição criativa é o metabolismo da inovação, o processo pelo qual o sistema se renova, desmontando o que já não gera valor para abrir espaço ao que pode gerar mais. No caso da saúde, esse metabolismo é visível nas rupturas que hoje remodelam o setor: hospitais que digitalizam jornadas assistenciais inteiras, operadoras que passam de modelos de volume para valor, startups que desafiam a lógica de centralização hospitalar com serviços baseados em dados e tecnologias preditivas.


O desafio é que a destruição criativa nunca vem sem dor. Inovar significa desmontar estruturas, rever processos e, muitas vezes, sacrificar margens de curto prazo em troca de sustentabilidade futura. Para hospitais e organizações de saúde, isso implica deixar para trás práticas que funcionaram bem por décadas, mas que já não entregam eficiência ou resultado clínico. Significa substituir hierarquias rígidas por redes de decisão mais ágeis, descentralizar o poder do especialista único e ampliar o papel da inteligência coletiva apoiada por dados. E, acima de tudo, compreender que inovação não é apenas adotar tecnologia, é redesenhar a forma como se pensa o valor dentro do sistema.


Aghion e Howitt aprofundaram esse raciocínio mostrando que a inovação é um fenômeno essencialmente coletivo. Nenhum avanço significativo acontece em isolamento. Em economias e setores inovadores, há um ecossistema de aprendizado contínuo, onde empresas, universidades, governos e sociedade interagem, compartilham conhecimento e multiplicam valor. Na saúde, isso é especialmente verdadeiro. Um hospital que compartilha seus dados de desfecho clínico, uma startup que valida algoritmos com base em evidências, um centro de pesquisa que traduz ciência básica em aplicações práticas, todos participam do mesmo ciclo criativo. É por isso que o futuro da saúde não depende apenas de laboratórios e incubadoras, mas de redes de colaboração estruturadas. O isolamento pode produzir visibilidade, mas é a conexão que produz impacto.


Ao traduzir as ideias do Nobel para o contexto da saúde, quatro aprendizados emergem com clareza.


O primeiro é que toda inovação destrói margens antes de criar valor. Esse é um princípio que gestores e líderes precisam assimilar de forma consciente. Inovar custa caro no início, consome tempo e pode gerar desconforto. Exige paciência, resiliência e métricas de avaliação que vão além do retorno financeiro imediato. No entanto, é esse investimento que define a perenidade das organizações. A história da inovação mostra que quem busca preservar margens a qualquer custo acaba se tornando obsoleto; quem aceita reduzi-las temporariamente constrói o futuro.


O segundo aprendizado é que a regulação define a velocidade da transformação. A destruição criativa depende de instituições capazes de equilibrar segurança e experimentação. Sem regulação adaptativa, o novo morre antes de nascer. A saúde precisa de mecanismos de aprendizado regulatório, estruturas que permitam testar inovações em ambientes controlados, avaliar resultados em tempo real e ajustar as normas conforme a evidência se consolida. Modelos de sandbox regulatório, como os testados em outros setores e já adotados em alguns países para tecnologias médicas e de IA, podem ser um caminho. A lógica deve deixar de ser “autorizar ou barrar” e passar a ser “testar, aprender e evoluir”.


O terceiro aprendizado é cultural. A destruição criativa só ocorre em organizações que valorizam a curiosidade mais do que a conformidade. Cultura é o ativo invisível da inovação. Sistemas de saúde que punem o erro e premiam apenas a previsibilidade tendem a repetir o passado. Já aqueles que permitem a experimentação e o aprendizado contínuo criam condições para a reinvenção. A cultura de inovação não se instala por decreto; ela nasce da prática, da segurança psicológica para propor o novo e do exemplo dado pelas lideranças. Em última instância, inovar é uma decisão política interna: permitir o risco em nome do progresso.


O quarto e talvez mais negligenciado aprendizado diz respeito à necessidade de uma estrutura capaz de traduzir esses conceitos econômicos em ação concreta dentro das organizações de saúde. Ter uma área de inovação não é mais um luxo institucional ou uma vitrine de marketing, é uma exigência estratégica. Esses núcleos cumprem um papel essencial: transformar teoria em prática, conectar a visão macroeconômica de destruição criativa à realidade operacional dos hospitais, clínicas e redes. São eles que identificam oportunidades, conectam startups, avaliam tecnologias, testam novos modelos de cuidado e, principalmente, criam pontes entre ciência, gestão e operação. Uma área de inovação madura funciona como tradutora entre mundos: o das ideias e o da execução. Sem ela, a inovação se torna discurso; com ela, torna-se movimento.


No entanto, é importante lembrar que o processo de destruição criativa na saúde carrega um paradoxo. É um dos setores mais resistentes à mudança, e, ao mesmo tempo, um dos que mais precisam dela. A lentidão regulatória, o risco clínico e a cultura hierárquica criam barreiras naturais à transformação. Mas resistir ao novo não é preservar o que funciona, e sim adiar o inevitável. Quando novas tecnologias, terapias ou modelos de cuidado se mostram superiores, elas não pedem licença: elas substituem. O que diferencia líderes visionários de gestores conservadores é a capacidade de antecipar essa curva, preparar a organização para o impacto e transformar a destruição em regeneração.


A mensagem do Nobel de 2025 é clara: em qualquer transição tecnológica, os vencedores não são os que resistem ao novo, mas os que reorganizam sua estrutura em torno dele. Na saúde, isso significa integrar inovação ao DNA organizacional, e não confiná-la a um departamento isolado. A verdadeira transformação ocorre quando inovação deixa de ser um projeto e se torna uma mentalidade coletiva. O hospital que repensa processos, a rede que investe em interoperabilidade, a universidade que aproxima pesquisa e prática clínica, todos estão, de alguma forma, incorporando o princípio da destruição criativa, reconstruindo o sistema sem precisar destruí-lo literalmente.


Por isso, vale desfazer o mito de que “destruição” é sinônimo de ruptura caótica. O que Mokyr, Aghion e Howitt nos lembram é que destruir, nesse contexto, é renovar. É eliminar ineficiências, reconstruir processos, substituir o obsoleto pelo eficiente, e transformar a inércia em aprendizado. A destruição criativa é, na verdade, regenerativa. Um sistema de saúde que se permite reinventar continuamente é mais resiliente, mais eficiente e, paradoxalmente, mais humano. É um sistema que reconhece que mudar é uma forma de cuidar.


Esse é o verdadeiro sentido do Nobel de 2025: compreender que a inovação não é o oposto da estabilidade, mas o seu pré-requisito. Em tempos de transformação acelerada, a estabilidade não vem da rigidez, e sim da capacidade de se adaptar. O que garante o futuro da saúde não é resistir à destruição criativa, e sim liderá-la. A estabilidade é uma ilusão; a verdadeira segurança está em aprender a mudar antes que o mundo mude por nós. Estamos prontos para liderar essa destruição criativa antes que ela nos alcance? Podemos estar defendendo o conforto do conhecido enquanto o futuro já nos redesenha?



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