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Autonomia em biotecnologia: vacinas, colaboração e soberania sanitária na América Latina

Atualizado: 17 de nov.

A pandemia escancarou a dependência latino-americana de imunizantes importados. Para reagir, países como o Brasil investem em produção nacional, plataformas de tecnologia de ponta e cooperação regional, uma estratégia que une saúde pública, economia e inovação.


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No contexto da crise da COVID-19, a dependência de países de renda média e baixa em relação às grandes potências produtivas de vacinas tornou-se evidente: distribuidores globais focaram suas cadeias em mercados prioritários e muitos sistemas públicos de saúde foram deixados em situação de vulnerabilidade. 


Conforme levantamento da World Health Organization (OMS), quase 90% das doses de vacinas iniciais foram distribuídas em nações de alta renda. Para regiões como a América Latina, a resposta passou a depender de alianças externas ou importações, o que destaca a urgência de fortalecer a produção regional e a inovação em biotecnologia.


O Brasil se posicionou rapidamente como protagonista nessa agenda. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por meio do Instituto Tecnológico de Imunobiológicos (Bio-Manguinhos), e o Instituto Butantan ampliaram sua capacidade produtiva e tecnológica. A Fiocruz entregou mais de 130 milhões de doses de vacinas domésticas durante a pandemia e, em 2022, recebeu autorização para produzir 100% dos insumos ativos (API) da vacina COVID-19 no Brasil. 


O Instituto Butantan, por sua vez, figura entre os dez maiores produtores de vacinas do mundo segundo a OMS, e distribuiu 100 milhões de doses da CoronaVac em 45 países. Esse histórico reforça que a “autonomia” não é apenas retórica: o Brasil possui base industrial, capacidade técnica e instituições consolidadas.


Contudo, produção em escala não significa independência total. O Brasil ainda importa insumos críticos, como APIs e tecnologias avançadas de RNA mensageiro, e enfrenta gargalos estruturais, como observou artigo da Pan American Health Organization (PAHO) sobre a dependência da América Latina em plataformas que ainda não estão completas localmente. Além disso, estudo publicado em 2025 indica que, embora o Brasil lidere a produção científica latino-americana em vacinas contra a COVID-19, há disparidades regionais e concentração dos centros de pesquisa no Sudeste. 


A cooperação regional emerge como caminho estratégico. Países como Argentina, México e Chile ampliaram parcerias para produção local ou embalagem de vacinas, segundo reportagem da Bloomberg Linea. A lógica é clara: ao combinar capacidade de produção, transferência de tecnologia e desenho regulatório conjunto, a América Latina pode reduzir custos, acelerar tempo-resposta e diminuir vulnerabilidades em futuras emergências sanitárias. Para isso, o Brasil tem papel central, tanto por seu parque científico e produtivo quanto por sua capacidade de liderar consórcios regionais.


Além dos benefícios sanitários, investir na produção nacional de imunobiológicos traz ganhos econômicos relevantes. A construção de polos de biotecnologia ativa cadeias produtivas que geram empregos de alta qualificação, promovem exportações e aumentam a soberania tecnológica. O Brasil, por exemplo, possui mais de 570 empresas de biotecnologia registradas, concentradas majoritariamente no Sudeste. Também, a capacidade de exportar vacinas fortalece o papel do Brasil como ator global de saúde, o Butantan já exportou mais de 5,7 milhões de doses de vacina da gripe para 13 países da América Latina e Europa.


Mas os desafios permanecem. A infraestrutura laboratorial exige elevados investimentos, a regulatória precisa harmonização regional, a cadeia de insumos ainda depende de mercados externos, e a formação de mão-de-obra em biotecnologia de ponta não acompanha a escala desejada. Um relatório de 2021 apontou que o Brasil tinha apenas duas plantas humanas de vacinas, demonstrando a fragilidade estrutural. Ainda mais, a integração entre pesquisa, indústria e assistência requer modelos de negócio inovadores, contratos de tecnologia e estímulos à transferência.


Para avançar, é preciso que a política industrial em saúde se torne parte integrante da estratégia de saúde pública, e não apenas reação a emergências. Isso inclui incentivar plataformas de RNA mensageiro, fármacos de próxima geração, sistemas de vigilância viral assistidos por IA, e uma rede latino-americana compartilhada de produção. Tais iniciativas exigem visão de longo prazo, financiamento consistente, governança e parcerias reais.


Em última análise, a produção regional de vacinas e biotecnologias não representa apenas um ganho para a saúde, é um investimento na autonomia sanitária, na economia do conhecimento e na equidade. A América Latina pode transformar sua dependência em protagonismo: um próximo surto, uma nova variante ou uma necessidade global emergente não terá de ser respondido de fora, mas de dentro. E quando isso acontecer, a diferença será medida não apenas em doses entregues, mas em vidas salvas, capacidades fortalecidas e soberania concreta.



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