A inovação em saúde só cumpre seu papel quando transforma o acesso

Nesta reflexão, Marina Viana compartilha sua jornada do diagnóstico por imagem ao universo das terapias de doenças raras e de alta complexidade, e o que essa mudança revela sobre o futuro do cuidado integrado no Brasil.

Do diagnóstico à terapia: um novo capítulo no cuidado de alta complexidade

Durante anos, vivi o universo dos equipamentos de diagnóstico por imagem. Um setor fascinante, tecnológico e essencial, que se reinventou inúmeras vezes e continua sendo um dos pilares da medicina moderna. O diagnóstico é onde tudo começa, onde enxergamos o invisível, guiamos condutas e antecipamos o curso das doenças.

Mas ao longo do tempo, percebi algo inquietante: enquanto o diagnóstico avançava em precisão e escala, o caminho entre o identificar e o tratar continuava fragmentado, lento e, muitas vezes, inacessível. Em especial nas doenças raras e de alta complexidade, onde cada dia conta e cada decisão clínica tem peso de vida.

Essa percepção me levou a atravessar uma ponte simbólica, do mercado de diagnóstico para o das terapias. Um movimento que não foi apenas de carreira, mas de propósito. Entender como o acesso a medicamentos inovadores, muitas vezes únicos no mundo, ainda é restrito e desigual no Brasil é confrontar de frente a fragilidade do nosso sistema de saúde e as lacunas que a inovação, por si só, não resolve.

Da imagem ao impacto: o elo que faltava

O setor de diagnóstico sempre se destacou por tecnologia e precisão. Mas no campo das terapias, a equação é diferente. Envolve regulação complexa, modelos de reembolso incipientes, ausência de dados do mundo real e uma cadeia de valor que raramente conversa entre si. Médicos, indústria, operadoras, governo, pacientes e associações seguem em ilhas isoladas.

Foi nesse contexto que nasceu a NHJ (Nova Health Journey), não como mais uma empresa de saúde, mas como uma plataforma que conecta essas ilhas. Um modelo que integra dados, jornada do paciente, evidências clínicas e acordos de risco, sustentando o acesso responsável a terapias de alto custo. A NHJ não nasceu para resolver o problema de um ator específico, mas para construir pontes e traduzir o potencial da inovação em acesso real.

O desafio invisível das doenças raras

Quando falamos em doenças raras, falamos de um universo de 8 mil condições, das quais apenas uma fração tem tratamento disponível. O diagnóstico pode levar anos, e mesmo quando há um medicamento aprovado, o caminho até ele é repleto de barreiras clínicas, regulatórias, financeiras e operacionais.

É um mercado que pode parecer pequeno em volume, mas não é, quando juntamos os estimados 13 milhões de brasileiros impactados por uma doença rara, além do gigantesco em impacto humano. E é justamente por isso, que mesmo com todo o investimento da indústria em inovações terapêuticas e do SUS em gerar acesso, ainda é um mercado que permanece negligenciado: porque não se encaixa na lógica tradicional da escala.

A transição do diagnóstico para as terapias me mostrou o quanto o valor em saúde precisa ser repensado. O que importa não é apenas detectar mais cedo, mas garantir que o paciente chegue à terapia certa, no tempo certo, com acompanhamento contínuo e mensuração de resultados. E isso só é possível quando tecnologia, ciência e gestão andam juntas.

Dados com propósito

No diagnóstico, aprendemos a gerar dados de forma massiva. Nas terapias, o desafio é dar sentido a eles. Os chamados dados do mundo real (RWE) são hoje o ponto de inflexão da inovação em saúde: permitem comprovar o impacto clínico e econômico das terapias, sustentam modelos de reembolso baseados em desempenho e ajudam a desenhar políticas públicas mais inteligentes.

Na NHJ, esses dados não são um fim, mas um meio. Um instrumento para negociar acesso com base em evidências, e não apenas em preços. É o início de uma nova lógica, em que indústria e sistema de saúde compartilham riscos e responsabilidades, e o paciente finalmente deixa de ser espectador do próprio tratamento para se tornar o centro real da decisão.

Inovação com ética e sustentabilidade

Mudar o mercado de terapias não é apenas sobre tecnologia ou novos modelos contratuais. É sobre ética. É sobre garantir que a inovação não amplie desigualdades, mas as reduza. É sobre construir uma agenda de saúde baseada em acesso sustentável, em que cada inovação traga retorno clínico, econômico e social.

No fundo, a pergunta que guia esse movimento é simples: como transformar complexidade em acesso? A resposta está em alinhar ciência, dados e propósito. E isso exige que deixemos de pensar em silos e passemos a enxergar o sistema como uma jornada integrada, em que cada parte tem um papel essencial no desfecho final.

O futuro do cuidado integrado

Acredito que estamos diante de um novo ciclo da saúde, um ciclo em que o protagonismo migra do produto para a jornada, do laboratório para o paciente, do dado para o impacto.

A transição do diagnóstico para as terapias me ensinou que inovação de verdade não acontece quando lançamos uma nova tecnologia, mas quando ela muda o destino de quem mais precisa dela.

E é esse o propósito que move esse novo capítulo: transformar fragmentação em fluidez e provar que, no cuidado de alta complexidade, é possível ser sustentável sem deixar ninguém para trás.

Acompanhe esta nova sessão do Inova na Real, onde continuarei explorando os desafios e oportunidades do acesso a terapias de alta complexidade e o futuro da inovação responsável em saúde.